Home

CONSULTANCY
ADVISORY

ADVISORY MADE

AVALIAÇÃO DE IMPACTO DE POLÍTICA PÚBLICA PARA A PRIMEIRA INFÂNCIA EM BOA VISTA - RORAIMA

Pesquisadores do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs) da Universidade de São Paulo (USP) estão conduzindo, em Boa Vista-RR, um estudo inédito no Brasil sobre o impacto de políticas públicas para a primeira infância.

Em parceria com o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC), eles avaliam se as ações, programas e serviços públicos para gestantes e crianças de 0 a 6 anos de idade produzem benefícios significativos e mensuráveis.

A pesquisa utiliza metodologia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) concebida justamente para a avaliação desse tipo de política social. Denominada PRIDI (Proyecto Regional de Indicadores de Desarollo Infantil), a metodologia é inovadora, pois oferece recursos para avaliar tanto aspectos cognitivos e de motricidade como competências socioemocionais.

Os pesquisadores vão a campo durante três meses, de janeiro a março de 2020, visitando residências em todas as regiões de Boa Vista. As crianças são avaliadas durante atividades lúdicas, e os adultos cuidadores são entrevistados, fornecendo informações importantes sobre o desenvolvimento dos pequenos.

Boa Vista é reconhecida no Brasil e no exterior por sua política integrada para a primeira infância. Lançada em 2013 pela prefeitura local, essa política articula todos os setores da administração municipal para priorizar e favorecer famílias de baixa renda que tenham gestantes ou crianças na faixa etária de 0 a 6 anos.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética de Pesquisa da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP), após processo de submissão via Plataforma Brasil, tendo obtido o Parecer de Aprovação Número 3.745.234 em 05/12/2019.

Pesquisadores responsáveis:


Profa. Dra. Elizabeth Balbachevsky - Pesquisadora-Chefe
David M.F. Silva - Coordenador
Eduardo R. Capocchi - Pesquisador

MAPA DA JUVENTUDE

Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo

Coordenação geral: Aylene Bousquat e Amélia Cohn

Equipe: Eunice Nakamura, Gabriel Coutinho Barbosa, José Ronaldo Trindade (coordenação de campo); Ademir Manerich (informática e geoprocessamento); Paulo Frazão (consultoria do plano amostral); José Guilherme Cantor Magnani (consultoria antropológica); Bruna Mantese de Souza, Caio de Andréa Gomes, Daniela do Amaral Alfonsi, Edison Claudino Bicudo Junior, Karen Chicolet Weingruber, Thiago Carvalho Pelucio Silva (assistentes de pesquisa)

Instituições financiadoras: Secretaria do Governo Municipal da PMSP (Processo 2002.0.256.681-8)

Parceria: Coordenadoria Especial da Juventude da Secretaria do Governo

Período: 12/2002-07/2003

Resumo: A elaboração do primeiro Mapa da Juventude de São Paulo teve como objetivo principal identificar e mapear grupos de jovens paulistanos. Para alcançar este objetivo foi realizado um longo e sinuoso percurso que articulou distintos componentes: o Inquérito Domiciliar, o Survey do Bolsa Trabalho, o Levantamento de Equipamentos e Espaços de Lazer, e principalmente, o Cadastramento dos Grupos. Logo de início, algumas dificuldades conceituais se apresentaram na necessidade de definir o que é ser jovem e qual o significado das noções de lazer e de grupo presentes na pesquisa. Na verdade, estes três conceitos – o de jovem, de grupo e de lazer – transformaram a dúvida inicial numa rica possibilidade de descobertas. À medida que a pesquisa se desenrolava, os primeiros dados passaram a indicar a inexistência de conceitos únicos, revelando seus diferentes significados em função da complexa realidade que se apresentava. Afinal, não se estava diante de uma juventude abstrata, e sim de pouco mais de 2.000.000 de jovens que vivem e constroem seu futuro e suas expectativas na maior cidade brasileira – e, portanto, diante de um espaço segregado, onde habitam milhares de “cidadãos incompletos”, sem acesso ao conjunto de bens e serviços públicos e principalmente ao conjunto da cidade. Como se inserem os jovens dentro dessa realidade? Como criam suas identidades? Como se organizam? Que motivos os levam a se organizar? Que estratégias utilizam? Quais são suas expectativas?

O primeiro desafio na construção do Mapa da Juventude foi garantir uma metodologia que incorporasse a dimensão socioespacial desta complexa realidade, de uma cidade povoada de “cidadãos incompletos”. A superação deste desafio seria um dos requisitos para que o Mapa da Juventude mostrasse a grande maioria dos jovens paulistanos, e não apenas aqueles que circulam nos circuitos conhecidos da cidade, nos circuitos dos incluídos. Esta era uma condição fundamental para se cumprir o segundo objetivo na construção deste Mapa: fornecer subsídios para a elaboração de políticas públicas promotoras da eqüidade. Para responder a esse desafio foram articuladas, fundamentalmente, duas etapas da pesquisa: o Inquérito Domiciliar e o Survey do Bolsa Trabalho.

O Inquérito Domiciliar estruturou-se a partir do desenho e definição das chamadas Zonas Homogêneas, que articulavam as dimensões tanto da construção dos diferentes espaços na cidade de São Paulo quanto da exclusão social. Garantiu-se, assim, a visibilidade de jovens com diferentes inserções sociais.

A realização desse Inquérito acabou sendo uma das etapas mais complexas e ricas na elaboração do Mapa da Juventude. Muito mais do que simplesmente traçar um perfil das atividades de diversão realizadas e/ou desejadas por estes jovens, este inquérito desenhou o perfil – social, econômico e cultural – da juventude paulistana. Ao possibilitar esta caracterização, a experiência de campo revelou como vivem, o que fazem, como se divertem e fundamentalmente, como os jovens se incluem na cidade. Nesse processo, foi se descortinando um sem-número de desigualdades: espaciais, de gênero, de cor. Padrões de exclusão social que deixam sua marca nos perfis de escolaridade, inclusão digital, inserção no mundo do trabalho e no doméstico, no lazer e na diversão; enfim, na vida e na possibilidade de construção do futuro.

O survey do Bolsa Trabalho caminhou na mesma direção, aportando mais informações sobre grupos de jovens das áreas com maior exclusão social da cidade. Para nossa surpresa, muitas das respostas enviadas pelos bolsistas se fizeram acompanhar de cartas. Cartas, depoimentos, em todos os tons; desde aqueles esperançosos, agradecidos, até os amargos, céticos, reivindicativos. Verdadeiras histórias de vida destes jovens.

Por fim, cabe mencionar a etapa da pesquisa que respondeu mais diretamente ao principal objetivo do Mapa: o cadastramento dos Grupos de Jovens Paulistanos. Para a primeira edição do Mapa da Juventude do Município de São Paulo foram cadastrados 1.609 grupos, que agregam em sua totalidade 303.592 participantes. Dois aspectos foram privilegiados na análise: as práticas de lazer e a participação em grupos, ambos entendidos como estratégias que expressam mais profundamente o significado de ser jovem. Para além do resultado concreto da pesquisa, a experiência de sua realização aponta para a possibilidade de se adequar o ritmo e o tempo da pesquisa às exigências impostas pelo ritmo e pelo tempo das políticas públicas. O cadastramento dos grupos mostrou uma juventude atuante, longe da imagem de juventude “alienada”. Jovens reunidos pelos mais distintos motivos: manifestações artísticas, esportes, religião, política e ação social. Jovens que se reúnem para refletir, criticar, discutir problemas sociais e políticos, atuar junto à comunidade. Ou seja, jovens mudando a cidade.

Relatórios de pesquisa

Bousquat, Aylene e Cohn, Amélia (coords.). Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo. São Paulo: Cedec, dez. 2002/jan. 2003, 50 p. (Relatório da primeira etapa)

________. Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo. São Paulo: Cedec, fev. 2003, 26 p. e Anexos (Relatório da segunda etapa)

________. Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo. São Paulo: Cedec, mar. 2003, 13 p. e Anexos (Relatório da terceira etapa)

________. Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo. São Paulo: Cedec, jul. 2003, 41 p. (Relatório da quarta etapa)

________. Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo. São Paulo: Cedec, jul. 2003, 139 p. e Anexos (Relatório final)

________. Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo. São Paulo: Cedec, set. 2003, 60p. (Relatório resumido – parte 1)

Trabalhos produzidos:

Bousquat, Aylene e Cohn, Amélia (coords. da pesq.) e Youssef, Alexandre e Mohallem, Michael Freitas (coords. do projeto). Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo. São Paulo: Cedec/Coordenadoria Especial da Juventude da PMSP, set. 2003, 57p. (Apostila)

Bousquat, Aylene e Cohn, Amélia. “A construção do Mapa da Juventude de São Paulo”. Lua Nova, São Paulo: Cedec, n° 60, 2003, pp. 81-96 (ISSN 0102-6445)

Bousquat, Aylene. “Algumas contribuições do Mapa da Juventude de São Paulo”. In: Martins, Maria Helena Berlinck (coord.). Encontro Estadual de Políticas Públicas de Juventude. São Paulo: Imprensa Oficial, 2004, pp. 35-40

Cedec. Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo. Instrumentos de Pesquisa. São Paulo, abr. 2003, 28 p.

Cohn, Amélia. “O modelo de proteção social no Brasil: qual o espaço da juventude?”. In: Novaes, Regina e Vannuchi, Paulo (orgs.). Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004, pp. 160-179 (ISBN 85-7643-006-1)

Folha de S. Paulo. O mapa da juventude – Todas as caras da metrópole. Revista da Folha, ano 12, n° 584, 24/08/03, pp. 6-34 (Especial)

Atividades desenvolvidas:

. “Mapa da Juventude - Perfil e comportamento do jovem de São Paulo”, evento organizado pela Coordenadoria da Juventude da Secretaria de Governo da PMSP para apresentação dos resultados da pesquisa, realizado na Prefeitura do Município de São Paulo; expositoras: Amélia Cohn, Aylene Bousquat e Eunice Nakamura, 04 setembro 2003

. Semana de Psicologia; conferência sobre o tema “Métodos de Pesquisa na Cidade: O Mapa da Juventude”, promovida pela Universidade São Marcos, São Paulo, José Ronaldo Trindade, 08 setembro 2003

. Expositora no evento de apresentação do Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo, promovido pela Comissão Extraordinária Permanente da Juventude da Câmara Municipal de São Paulo, Sala Tiradentes, São Paulo, Aylene Bousquat, 11 setembro 2003

. Apresentação da pesquisa Mapa da Juventude do Município de São Paulo, promovida pela Secretaria Municipal de Educação e Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), realizada na FMU, São Paulo, Eunice Nakamura, 25 setembro 2003

. Encontro Estadual de Políticas Públicas de Juventude; expositora na mesa “Juventude em números”, promovido pelo Programa Capacitação Solidária e Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer do Governo do Estado de São Paulo, realizado no Memorial da América Latina, São Paulo, Aylene Bousquat, 29-30 setembro 2003

. Debatedora na Audiência Pública sobre Políticas Públicas de Juventude e expositora do tema “Mapa da Juventude de São Paulo”, promovida pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Aylene Bousquat, 11 dezembro 2003

. Seminário “Juventude e Políticas Sociais: Experiências e Proposições”; expositora na mesa “Políticas públicas de juventude: universalização ou focalização?”, promovido pelo Instituto Cidadania em parceria com a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, realizado no Palácio das Artes, Belo Horizonte, Amélia Cohn, 12-13 março 2004

. Seminário “Juventude, participação e políticas públicas”; expositora dos resultados da pesquisa “Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo”, promovido pelo Centro Cultural da Juventude da PMSP, São Paulo, Aylene Bousquat, 20 setembro 2006

Presença na mídia:

Bousquat, Aylene. Entrevista para a matéria de capa “Todas as caras da metrópole – O mapa da juventude”, sobre a pesquisa realizada pelo Cedec. Revista da Folha (Folha de S. Paulo), ano 12, n° 584, 24/08/03, pp. 6-34 (Especial)

Bousquat, Aylene. Entrevista para a matéria “São Paulo ganha mapa da juventude”, publicada no site da Agência FAPESP: (Divulgação Científica), 04 maio 2004

Bousquat, Aylene. Entrevista (on line) sobre o Mapa da Juventude do Município de São Paulo, TV Tela, 05 maio 2004

Nakamura, Eunice. Entrevista sobre comportamentos juvenis. Revista Super Interessante, edição 184, janeiro 2003

CULTURA E LAZER: AS PRÁTICAS DE LAZER E FÍSICO ESPORTIVAS DO FREQUENTADORES DO SESC EM SÃO PAULO 2ª etapa (17/01/2017 a 17/07/2017)

Coordenação: Prof. Dra. Cecília Carmen Pontes Rodrigues

Equipe de Pesquisa – Etnografia – LabNAU

O presente trabalho propõe a realização de um survey pelo Centro de Estudos de Cultura Contemporânea – CEDEC em colaboração com o Centro de Pesquisa e Formação - CPF do SESC/SP com o objetivo de conhecer as motivações das práticas de lazer e físico esportivas dos frequentadores de unidades do SESC do interior do Estado de São Paulo. A presente pesquisa é um trabalho na área de estudos sobre indicadores de qualidade de vida, cultura e lazer.

Esta pesquisa vem aprofundar o trabalho realizado pelo CEDEC em 2015 em dez unidades da região metropolitana e litoral do Estado de São Paulo.

O survey realizado em 2015 avançou no sentido de permitir um conhecimento mais amplo do perfil dos frequentadores do SESC /SP, de suas expectativas e grau de satisfação com relação a vários aspectos da programação e serviços oferecidos. Os procedimentos adotados, conforme as exigências de pesquisa ancorada na metodologia quantitativa garantiram maior objetividade e confiabilidade dos dados obtidos. Estes, por sua vez, permitiram, como foi apresentado no Relatório Final da Pesquisa, a descrição e a caracterização dos frequentadores das unidades que constituíram o lócus da pesquisa. Trata-se de material de grande amplitude que, sem dúvida, permite uma contínua reflexão no sentido de aprimorar a programação das atividades nas unidades pesquisadas. Uma das conclusões importantes da pesquisa é que no SESC/SP existem diferenças significativas entre as unidades em termos da localização regional quanto ao perfil dos frequentadores. A pesquisa evidenciou, ainda, que os recursos disponibilizados pelo SESC constituem um grande incentivo para a dinamização das regiões em que as unidades se situam, tanto em termos de atividades esportivas como, principalmente, em relação à participação em eventos culturais.

As considerações anteriores justificam a realização da presente proposta do Survey no interior do Estado de São Paulo visando aprofundar a análise do perfil dos frequentadores tendo em vista as diferenças regionais e sócio culturais do SESC/SP.

CULTURA E LAZER: AS PRÁTICAS DE LAZER E FÍSICO ESPORTIVAS DO FREQUENTADORES DO SESC EM SÃO PAULO 1ª etapa (18/02/2015 a 18/02/2016)

Equipe de Pesquisa – Etnografia – LabNAU

José Guilherme Cantor Magnani – Coordenador

Pesquisadores

Ana Luiza Mendes Borges, Camila Iwasaki, Clara Azevedo Danilo Cymrot – SESC São Paulo. Enrico Spaggiari, Lucas Lopes de Moraes, Mariana Hangai Vaz Guimarães Nogueira, Michel de Paula Soares, Rodrigo Chiquetto, Thiago Pereira dos Santos, Yuri Bassicheto Tambucci.

Equipe de Pesquisa – Survey – CEDEC

Cecilia Carmen Pontes Rodrigues – Coordenadora

Pesquisadores

Gustavo Takeshy Taniguti, Heloisa Helena Teixeira de Souza Martins, Jaime Santos Junior – SESC São Paulo. Jonas Tomazi Bicev, Maria Rita Aprile, Rosana Estrela Adamos.

1. INTRODUÇÃO

A pesquisa “Cultura e lazer: as práticas culturais dos frequentadores do SESC em São Paulo”, proposta pelo Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana (LabNAU/USP) e articulada com o Centro de Estudos de Cultura contemporânea (CEDEC) teve, como ponto de partida, as motivações desses frequentadores em sua procura pelas atividades e serviços oferecidos nas diferentes unidades escolhidas para o estudo. As duas equipes exploraram perspectivas metodológicas com conceitos e práticas distintas, porém não excludentes: o LabNAU/USP ficou responsável pela pesquisa de tipo etnográfico (abordagem qualitativa) e o CEDEC, pela pesquisa do tipo survey (abordagem quantitativa). O recorte empírico era o mesmo: as unidades do SESC e as pessoas que circulam por elas, usam suas instalações e estabelecem relações entre si e com a instituição. O método etnográfico permitiu uma aproximação junto aos frequentadores em diversos momentos e circunstâncias: conversando com eles, circulando pelos mesmos espaços, participando das mesmas atividades, ou mesmo só observando, sem fazer nada de especial. Desse modo foi possível acessar, de uma forma muito direta, suas escolhas por determinadas atividades, mapear suas rotinas e avaliar a importância e significado que o SESC representa em suas vidas diárias. Isso porque o método etnográfico tem como características a observação sistemática e a permanência intensiva em campo, com o olhar “de perto e de dentro” (MAGNANI, 2002), abordagem que permite entrar em contato com o Universo dos pesquisados e compartilhar seu horizonte, não para permanecer lá ou mesmo para atestar a lógica de sua visão de mundo, mas para de troca, comparar suas próprias teorias com as deles e assim tentar sair com um modelo novo de entendimento ou, ao menos, com uma pista nova, não prevista anteriormente (MAGNANI, 2002, p.135).

Entretanto, ao contrário de uma etnografia clássica, em que o pesquisador tradicionalmente passava longos períodos de tempo em determinado contexto cultural, a multilocalidade e o período de duração desta pesquisa levaram à utilização de uma estratégia metodológica classificada como “expedição etnográfica”. É possível evocar alguns antecedentes que preveem esse tipo de abordagem. O primeiro foi a “Expedição São Paulo: refazendo os antigos caminhos de São Paulo, 1985”, caminhada de uma semana realizada com diversos especialistas – arquitetos, historiadores, cientistas sociais, ambientalistas –, dentre os quais José Guilherme Magnani, seguindo os mesmos trajetos dos viajantes do século XIX para confrontar, conforme a proposta de seu organizador, o arquiteto Julio Abe Wakahara, as descrições daquele “vazio oitocentista” com a trama urbana da mesma cidade 100 anos depois.

Esta experiência foi replicada e ampliada com um grupo maior de especialistas por ocasião dos 450 anos da cidade São Paulo: “Uma viagem por dentro da metrópole”,(Coordenada pelo Núcleo de Antropologia Urbana e pela Expomus, com patrocínio da Prefeitura de São Paulo, Instituto Florestan Fernandes, Grupo Estado, entre outros), em janeiro de 2005. Divididos em duas equipes, os pesquisadores percorreram a cidade do externo sul ao norte, da região leste à oeste, visitando instituições, observando equipamentos públicos e privados, entrevistando lideranças, conversando com moradores, registrando a paisagem urbana. Nenhuma das duas, contudo, foi pensada segundo o modelo clássico da pesquisa antropológica, mas certamente podem ser consideradas como “experimentos de inspiração etnográfica”. Já o projeto “Cidades médias da calha do rio Solimões”, realizada pelo NAU em parceria com o NEPECAB/UFAM (Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira), na Amazônia, em diferentes períodos entre os anos 2013 e 2015 orientou uma pesquisa de mais longa duração, mas também com caráter experimental, porquanto combinou métodos da geografia com o da etnografia. Outros exemplos são as incursões etnográficas coletivas na “Virada Cultural”, no centro da capital paulistana, em 2014 e 2015 e, mais remotamente, a pesquisa “Santana de Parnaíba, Memoria e Cotidiano” em 1984, solicitada pelo CONDEPHAAT - desenvolvidas no âmbito do LabNAU/USP. Eram diferentes os propósitos, os timings e as expectativas das instituições que haviam proposto ou participado desses trabalhos, mas todos tinham em comum uma estratégia que os diferenciava dos enfoques habituais das pesquisas antropológicas: enquanto estas ainda seguiam o clássico modelo malinowskiano – uma jornada solitária, de longa duração, acompanhando o dia a dia na aldeia de um povo longínquo – os experimentos da NAU colocam vários pesquisadores em campo, compartilhando olhares e relatos, num período mais curto de tempo, imersos na dinâmica do ambiente urbano para observar e registrar o objeto de seu estudo. No caso da presente pesquisa, a duração foi de um ano, com nove pesquisadores em campo, em nove unidades do SESC em São Paulo – seis na capital, uma na região metropolitana, uma no litoral e a última no interior do estado. O resultado do trabalho de observação, registrado em relatos de campo que totalizaram mais de duas mil páginas – foram compartilhados por todos e organizados em fascículos para consulta; dado o volume das observações, entretanto, os dados foram submetidos a uma organização prévia por meio de um software especializado em análise de dados qualitativos, para posterior análise e interpretação com base em bibliografia antropológica sobre os temas. Foram feitas as observações das rotinas da unidade e travou-se diálogo com os frequentadores e funcionários, no sentido de estabelecer um quadro representativo de cada SESC. O método de “expedição etnográfica” – citado acima – permitiu que vários pesquisadores estivessem em campo ao mesmo tempo, realizando observações e coletando dados sobre diferentes práticas. Reproduziu-se um dos preceitos clássicos da prática etnográfica, a “observação participante” (MALINOWSKI, 1984[1921]; PEIRANO, 1995), através da qual os pesquisadores da equipe não somente conversaram com os diferentes atores sociais que vivenciam as rotinas da instituição, como também observaram e participaram das atividades que compunham a programação. O que permitiu ter acesso às relações estabelecidas entre frequentadores e funcionários, dimensão que uma observação distanciada, “de longe e de fora” (MAGNANI, 2012), não conseguiria apreender. Tais informações posteriormente foram sistematizadas em Relatos de Campo (detalhamento na parte Metodologias). Este método de pesquisa possibilitou a ampla abordagem do universo de análise em um período de tempo relativamente curto (uma semana em cada unidade), sem deixar de lado a dimensão institucional: funcionários, regras, conceitos e programação; e a dimensão cotidiana da unidade: vivências, motivações, categorias nativas, sociabilidades e usos por parte dos frequentadores. Por isso, o mapeamento prévio das características das unidades visitadas foi fundamental para a aplicação da metodologia à pesquisa, ampliando as potencialidades da prática etnográfica durante o período relativamente curto de permanência na unidade. Esse panorama inicial permitiu aos pesquisadores se dividirem entre as atividades da programação de modo a cobrir parte representativa das ações realizadas nas unidades, assim como circular por seus entornos e coletar informações sobre outros equipamentos que forneciam serviços similares, e até mesmo mapear os fluxos de circulação de pessoas pela região na qual estão localizados os prédios dos SESCs. O caráter multissituado da etnografia (MARCUS, 1998) permitiu aos pesquisadores transitarem tanto entre os diferentes espaços (dentro e fora da unidade), como também circularem nos diversos níveis da estrutura institucional da unidade, travando contato com gerentes, programadores, monitores, técnicos e também com funcionários terceirizados e temporários. A observação dessa gama de atores sociais permitiu o acesso a um conjunto de categorizações nativas, acionadas cotidianamente para fazer referência ao que é feito, vivenciado e praticado nas unidades, produzindo, assim, sentidos sobre o próprio SESC. Por isso a preocupação metodológica dessa pesquisa em sistematizar essas definições recolhidas em campo. Outra dimensão importante do cotidiano das unidades diz respeito às regras e normas estabelecidas pelos quadros gestores e a como elas são encaradas por funcionários e frequentadores em suas rotinas diárias. Por isso, as preocupações metodológicas da pesquisa se voltaram também para a observação dessas complexas relações entre o que é dito e o que é feito, e como tais questões impactam as rotinas e motivações daqueles que frequentam cada SESC. Nesse ponto, as afirmações do sociólogo Michel de Certeau (CERTEAU, 1998) foram tomadas como inspiração metodológica no mapeamento tanto das táticas quanto das estratégias. Para esse autor, em sua vida cotidiana os indivíduos estão constantemente se relacionando e enfrentando normas e regras estabelecidas pelas instituições, aquilo definido por ele como as estratégias constantemente são manipuladas e transformadas através das táticas desses atores sociais. Sendo assim, uma das preocupações da equipe de pesquisadores foi observar em campo essa dinâmica entre supostas estratégias e táticas, ou seja, entre as regras institucionais e os diferentes usos (alguns inesperados) do SESC por parte de seus frequentadores. Nesse ponto, a atenção às diferentes formas de representação (MAGNANI, 1986) permitiu começar a estabelecer as relações entre o discurso (o que é dito) dos diferentes interlocutores e as observações em campo (aquilo que é feito), dimensões que a perspectiva etnográfica é capaz de captar. Na impossibilidade de abordar todos os frequentadores das unidades do SESC/SP, decidiu-se pela metodologia quantitativa denominada survey (ou enquete), que consiste, essencialmente, no estabelecimento de um grupo ou amostra representativa de uma população, com base na suposição de que ela expressa em pequena escala as mesmas características, relações e processos do todo maior. O survey oferece, assim, a possibilidade da aquisição de informações a respeito de atitudes, valores e opiniões dos indivíduos que compõem a amostra e, a partir dela, a soma de valores numéricos iguais, gerando dados estatísticos possíveis de serem interpretados e ampliados para todo o universo pesquisado. No caso desta pesquisa, cujas análises envolvem considerações sobre uma grande variedade de aspectos, o uso de instrumento de medida, como o questionário com alternativas de respostas, apresentou-se como o melhor meio de quantificá-los. As respostas às questões formuladas no questionário foram processadas por meio de métodos estatísticos, com o objetivo de garantir fidedignidade e confiabilidade das mensurações das variáveis definidas na pesquisa. Esses procedimentos indicam que o Survey exige um estreito controle sobre a seleção da amostra, a elaboração do questionário, a seleção e treinamento dos aplicadores dos questionários, bem como sobre o processamento das respostas. De início, foram estabelecidos enunciados descritivos que permitissem identificar um perfil - ainda que preliminar - dos frequentadores de cada unidade, mapear as atividades por eles realizadas, as instalações utilizadas e os serviços buscados. Na construção desse perfil também foram considerados dados do banco de matrículas do SESC, como: sexo, faixa etária, estado civil, local de moradia, ocupação, renda e atividades desenvolvidas em unidades da instituição. A partir dessas informações, foi elaborado e validado instrumento para realização da pesquisa, contendo 57 questões, que abrangeram: perfil dos frequentadores, estrutura, programação e atividades físico-esportivas e culturais oferecidas pela unidade e um conjunto de 23 assertivas sobre as motivações que condicionam as práticas de lazer e de cultura entre os frequentadores das unidades do SESC de São Paulo. Por meio dessas questões, os entrevistados puderam expressar o seu grau de concordância ou discordância em relação a três dimensões: (a) instalações e uso dos espaços, (b) programação físico-esportiva e cultural e (c) convivência social/familiar no ambiente do SESC. No período de junho a agosto, foram pesquisadas dez unidades do SESC/SP. Foram realizadas 3181 entrevistas, por nove entrevistadores, posicionados em todos os locais de acesso às dez unidades em diferentes dias da semana (terça-feira, quintafeira, sábado e domingo), durante todo o período de seu funcionamento, o que caracterizou esta fase da pesquisa de "aleatória em fluxo". Para análise dos dados, foi utilizado o método viabilizado pelo Programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), que compreendeu duas etapas: (1) análise de correlação para medir as semelhanças entre as variáveis do perfil dos frequentadores, práticas e usos de espaços e (2) análise fatorial para medir a correlação das assertivas resultando em seis fatores: 1) instalações e uso dos espaços; 2) estrutura e programação físico-esportiva; 3) estrutura e programação cultural; 4) relacionamento dos frequentadores com os funcionários, instrutores e outros frequentadores; 5) aplicação de regras e segurança do espaço; 6) convivência e inclusão social e digital. A análise dos dados da pesquisa survey foi realizada em duas etapas. Em primeiro lugar, a análise em profundidade das informações de cada unidade resultando na produção de dez “dossiês” apresentados em anexo a este relatório e, em seguida, as informações foram agregadas resultando numa tipologia de frequentadores do SESC, apresentada na conclusão dos resultados da pesquisa. As informações obtidas resultaram em um conjunto de tabelas e gráficos demonstrativos sobre os aspectos analisados, que permitiram obter tanto uma visão global sobre o conjunto das unidades integrantes da amostra, quanto específica, própria e particular de cada uma das unidades analisadas.